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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A abelha...

Pequenas agricultoras ameaçadas

A produtividade da canola aumenta expressivamente com polinização feita pela abelha ‘Apis mellifera’ – a mais comum das Américas. Mas a espécie enfrenta séria ameaça no continente.
Por: Luan Galani
Publicado em 15/07/2010 | Atualizado em 15/07/2010
Pequenas agricultoras ameaçadas
'Apis mellifera', com grande quantidade de pólen nas pernas, busca néctar em flor da canola (foto: Annelise de Souza Rosa).
É de amplo conhecimento que o desmatamento, o uso inadequado de pesticidas em atividades agrícolas e o aquecimento global têm feito vítimas entre os insetos, com destaque para as abelhas, cujas colônias têm diminuído significativamente.
Considerando-se que os insetos – e as abelhas de modo especial – são os principais agentes de polinização de 90% das plantas do planeta que produzem frutos, a constatação de que estão diminuindo é no mínimo preocupante, embora artigo da revista britânica The Economist afirme que essa redução não procede.
Abelhas da espécie Apis mellifera aumentam a produtividade da canola em até 70%
Estudo recente feito por pesquisadores da Faculdade de Biociências da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) vem novamente reiterar a importância da abelha em cultivos agrícolas. O trabalho mostra que as da espécie Apis mellifera aumentam a produtividade da canola (Brassica napus) em até 70%.
“Pesquisas científicas já realizadas com essa cultura constataram que ela é a polinizadora mais eficiente dessa espécie vegetal”, afirma a bióloga Annelise de Souza Rosa, responsável pelo estudo, sob orientação da bióloga Betina Blochtein.
Flor de canola
Lavoura de canola em flor (foto: Annelise de Souza Rosa).
A pesquisa de Rosa acompanhou desde o período da pré-floração até a colheita da canola em 13 hectares de uma área agrícola da Sociedade Educacional Três de Maio, no município de Três de Maio, no noroeste do Rio Grande do Sul, a 475 km de Porto Alegre. No local havia dois apiários, com 18 e 20 colônias, respectivamente.
Embora a Apis mellifera esteja diretamente relacionada com o aumento da produtividade da canola, a equipe de Rosa alerta para a necessidade de manejo adequado de colmeias nas imediações dos cultivos, visando à polinização dirigida.
“Manejos inadequados podem causar prejuízos para as abelhas e comprometer a produtividade da cultura”, diz a bióloga. Segundo ela, as abelhas devem ser introduzidas nas lavouras quando pelo menos 10% da floração estiver em evidência, para que haja disponibilidade de recursos alimentares ofertados pelas flores (néctar e pólen).
Abelha coleta pólen
Abelha coleta pólen. Entre os insetos, elas são os principais agentes de polinização de 90% das plantas do planeta que produzem frutos (foto: Arthur Chapman).

Entre nós por acidente

Conhecidas como abelhas africanizadas, as Apis mellifera existem no Brasil por causa do biólogo Warwick Kerr. Na década de 1950, por meio de um programa de melhoramento genético das abelhas africanas (Apis mellifera scutellata), Kerr pretendia contribuir cientificamente para a melhoria da apicultura nacional.
'Apis mellifera' em colmeia
Abelha 'Apis mellifera' trabalha em uma colmeia, onde podem viver até 60 mil indivíduos (foto: Thomas Bresson).
Embora muito produtivas, elas eram também bastante agressivas, muito mais que as dóceis abelhas europeias, empregadas na apicultura brasileira desde o século 19.
Durante os experimentos de Kerr, acidentalmente um apicultor visitante removeu a tela protetora que impedia a fuga das abelhas.
Algumas rainhas, acompanhadas por enxames de operárias, abandonaram suas colmeias, propiciando o surgimento de híbridos com características predominantes das abelhas africanas, hoje conhecidas como abelhas africanizadas.
Por causa da rusticidade e de sua maior capacidade de enxamear, essas abelhas se adaptaram e se expandiram rapidamente por quase todo o continente americano.
A abelha africanizada é vital para as lavouras de canola
A espécie é agora comprovadamente vital para as lavouras de canola, que estão em expansão no Rio Grande do Sul, estado responsável por 85% da safra brasileira da planta.

Terceira oleaginosa mais produzida no mundo, atrás apenas da palma e da soja, a canola foi desenvolvida por pesquisadores canadenses na primeira metade da década de 1970, a partir de melhoramento genético convencional da colza (Brassica napus L).
A palavra canola é um termo genérico internacional que significa azeite canadense de baixo teor ácido (Canadian Oil Low Acid). O óleo tem várias utilidades, inclusive como lubrificante na indústria de fundição. Mas destaca-se por seu amplo uso na indústria alimentícia.
Lavoura de canola
Lavoura de canola em área agrícola de Três de Maio, município no Rio Grande do Sul (foto: Annelise de Souza Rosa).
O óleo de canola é um produto saudável por conter grande quantidade de ômega-3 (ácido graxo que reduz triglicerídios), vitamina E (antioxidante), gorduras monoinsaturadas (diminuem o mau colesterol) e baixo teor (o menor de todos os óleos vegetais) de gordura saturada.
Por isso, é tão apreciado por pessoas interessadas em dietas saudáveis. Mas, com a paulatina diminuição das abelhas responsáveis pela polinização da planta, sua produtividade está comprometida.

Algas

O poder das algas

Bastante usadas nas indústrias de alimentos e cosméticos, as macroalgas marinhas têm também um grande potencial biotecnológico. Novos estudos brasileiros mostram que compostos produzidos por elas têm ação antioxidante, fotoprotetora e até antitumoral.
Por: Isabela Fraga
Publicado em 28/07/2010 | Atualizado em 28/07/2010
O poder das algas
Alga do gênero 'Glacilaria': uma das espécies do gênero produz substâncias antioxidantes e fotoprotetoras (foto: Eric Moody – CC-BY 3.0).
Elas estão em pudins, loções, pastas de dente e até na cerveja. São inúmeras as aplicações industriais de substâncias extraídas das macroalgas marinhas (algas pluricelulares visíveis a olho nu). Mas seu aproveitamento pode ser ainda mais intensivo: pesquisas recentes têm mostrado que compostos produzidos por esses organismos têm um incrível potencial biotecnológico.
Compostos produzidos pelas algaso eficazes contra câncer, trombose, bactérias e vírus, ação do Sol e envelhecimento
Eficácia contra o câncer, trombose, bactérias e vírus patogênicos, a ação do Sol e o envelhecimentoo apenas algumas das propriedades de interesse industrial demonstradas recentemente por estudos brasileiros.
Das cerca de 32 mil espécies de macroalgas marinhas pertencentes aos três grupos principais (verdes, vermelhas e pardas), apenas cem são exploradas comercialmente. Ainda assim, a aquicultura de algas é o terceiro maior recurso aquático do mundo.
“No Brasil, essa exploração ainda é incipiente”, comentou a oceanógrafa Yocie Yoneshigue Valentin, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidente da Redealgas, em mesa redonda da reunião anual da SBPC. “Não se conhece muito sobre o potencial biotecnológico das macroalgas.”

Para a pele

Também presente na mesa redonda, a bióloga Nair Sumie Yokoia, pesquisadora do Instituto de Botânica do Estado de São Paulo, apontou o potencial antioxidante e fotoprotetor de duas substâncias encontradas em várias espécies de macroalgas marinhas: os carotenoides – pigmentos orgânicos – e as micosporinas – um tipo de aminoácido.
Os carotenoides de algumas espécies de algas têm ação antioxidante e também fotoprotetora
Segundo Yokoia, os carotenoides de algumas espécies de algas – como a G. birdiae e a H. Spinella – têm ação antioxidante e também fotoprotetora.
Já as micosporinas, presentes principalmente em algas de regiões tropicais, absorvem raios ultravioleta. “Podemos fazer filtros solares e antioxidantes naturais com essas substâncias”, vislumbra Yokoia.
A bióloga também aponta a ação das algas marinhas como fertilizantes agrícolas. As auxinas e as citocininas, substâncias extraídas de algas como a Hypnea musciformis ou a Ecklonia maxima, estimulam o desenvolvimento das raízes das plantas, resultando em um aumento da produção agrícola. “O uso de algumas substâncias extraídas das algas pode evitar a utilização de agrotóxicos ou de fertilizantes químicos”, conta.

Câncer e trombose

Alga da espécie 'Ecklonia maxima'
Compostos da espécie 'Ecklonia maxima' podem substituir fertilizantes químicos na agricultura (foto: flickr.com/Kalense Kid – CC-BY 2.0).
Há também aplicações promissoras para a saúde humana. O bioquímico Hugo Alexandre Rocha, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), conduz um estudo inovador sobre a ação dos polissacarídeos sulfatados de algas marinhas na destruição de células cancerosas e também no tratamento de trombose.
Rocha estudou a ação das fucanas – polissacarídeos sulfatados encontrados principalmente em algas pardas – na inibição do crescimento de céulas tumorais de próstata.
“Quanto maior a concentração de fucanas, maior a inibição de céulas tumorais”, explica ele. “Percebemos que essa substância induz a morte celular das células cancerosas.”
Outro foco da pesquisa de Rocha foi analisar o efeito das fucanas de algas marinhas contra a trombose. “Mostramos que um tipo de fucana apresenta ação antitrombótica em até oito horas depois de aplicada”, conta o biólogo.
As pesquisas de Rocha e de Yokoia estão sintonizadas com outros estudos recentes, como o do gel desenvolvido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC), em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF) e com a Fundação Ataulpho de Paiva.
Falta o interesse da indústria para que o potencial dessas substâncias chegue ao consumidor
O produto, composto por uma substância microbicida da alga Dictyota pfaffii, teria potencial de impedir a transmissão do vírus HIV.
Mas falta um elo importante para que o potencial de todas essas substâncias seja aproveitado em grande escala e chegue ao consumidor: o interesse da indústria.
Valentin, Yokoia e Rocha acreditam que os investimentos virão assim que as pesquisas se mostrarem de fato promissoras. “Três empresas já entraram em contato comigo para falar sobre meus resultados”, exemplifica Rocha, sem entrar em mais detalhes.

Vida aquática X resíduos industriais

Vida aquática X resíduos industriais

Projeto reúne laboratórios de vários países para avaliar os efeitos da poluição industrial em ambientes aquáticos. Tecnologias de ponta são empregadas para analisar riscos de contaminação da fauna que vive nesses ambientes.
Por: Guilherme de Souza
Publicado em 28/09/2010 | Atualizado em 28/09/2010
Vida aquática X resíduos industriais
Um peixe morto boiando em águas poluídas. Resíduos industriais despejados na natueza podem permanecer no meio ambiente por décadas, ameaçam organismos aquáticos e representam um risco também para pessoas que se alimentam deles (foto: Kenn Kiser).
Em tempos de conscientização ecológica, despejar resíduos industriais diretamente na natureza é quase um pedido de reprovação pública. Mas, ainda que o processo seja interrompido, grande parte dos compostos já lançados sem tratamento pode permanecer no meio ambiente por meses, anos ou até décadas.
Muitos organismos sofrem com substâncias tóxicas e são um risco para as pessoas que se alimentam deles
No caso de ambientes marinhos, é possível que se alastrem por quilômetros. Muitos organismos sofrem com a ação das substâncias tóxicas e são um risco potencial para as pessoas que se alimentam deles.
Diante do problema, pesquisadores de todo o mundo investigam os males causados por resíduos industriais em ambientes aquáticos. No Brasil, onde poucos grupos se dedicam ao tema, destaca-se o Laboratório de Toxicologia Celular da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
“Há 10 anos trabalhamos com metodologias que avaliam o efeito de poluentes em células e tecidos vivos de peixes e outros vertebrados”, conta o biólogo Ciro Oliveira Ribeiro, do Departamento de Biologia Celular da UFPR.
“O dano varia conforme o poluente, o tipo de célula e o tempo de exposição”, explica o biólogo. As células acometidas podem apresentar falhas no metabolismo, alterações no DNA e, em casos extremos, morrer.
Em 2007, o grupo começou a avaliar os efeitos de metais tóxicos e biotoxinas em células de peixes. Nos animais aquáticos, a exposição a resíduos industriais pode ser especialmente grave, já que eles ficam em contato direto com as substâncias tóxicas lançadas na natureza.
As células acometidas podem apresentar falhas no metabolismo, alterações no DNA e, em casos extremos, morrer
Por meio do chamado biomonitoramento, os testes são realizados tanto em laboratório quanto no meio ambiente, em animais coletados ou em células e tecidos cultivados para a pesquisa.
Em um dos experimentos, o peixe (Hoplias malabaricus, a traíra) recebeu alimento contaminado pelo metal cádmio. “Uma semana depois, a substância se mantinha depositada em seu aparelho digestivo”, relata Ribeiro.
Segundo o biólogo, o processo de absorção varia de acordo com o tipo de poluente. Os riscos causados por alguns deles podem ser graves para o animal e para as pessoas que venham a consumi-lo. Em seres humanos, os sintomas variam de disfunção do sistema reprodutivo e imunodepressão até mau funcionamento dos rins.
Peixe contaminado por cádmio
Autorradiograma do peixe 'Hypostomus platessoides' exposto ao cádmio-109 através do alimento. No detalhe, vê-se o aparelho digestivo do animal com acúmulo de cádmio, sete dias após a exposição ao metal. Esse e outros metais tóxicos são dificilmente absorvidos por organismos vivos (imagem: Claude Rouleau).

Métodos de análise

O trabalho da equipe de Ribeiro faz parte de um projeto internacional [PDF] que emprega radiotraçadores e tecnologias de radioensaios para analisar riscos de contaminação de animais aquáticos.
O projeto, criado por Ross Jeffree, do Laboratório de Meio Ambiente Marinho, sediado em Mônaco, e Claude Rouleau, do Instituto Maurice Lamontagne, de Québec, no Canadá, conta com a colaboração de grupos de pesquisa de vários países, que realizam experimentos de modo autônomo e complementar. O laboratório da UFPR é o único que avalia danos celulares. A iniciativa teve o aval da Agência Internacional de Energia Atômica e entrou em andamento em 2007.
Traíra
Traíra ('Hoplias malabaricus'). Esse peixe de água doce da família dos cracídeos é usado nos experimentos do Laboratório de Toxicologia Celular da UFPR para estudar a absorção de substâncias tóxicas (metais tóxicos e biotoxinas) por animais que vivem em ambiente aquático (foto: Cláudio Dias Timm – CC BY-NC-SA 2.0)
Uma dificuldade enfrentada pelos cientistas brasileiros no início da pesquisa foi padronizar o cultivo das células (hepatócitos de peixes) que seriam usadas no estudo. Uma vez estabelecida a metodologia, os trabalhos se voltam agora para a exposição dessas células aos poluentes mercúrio, cádmio, cobre, chumbo, benzopireno, tributilestanho, diclorodifeniltricloroetano (DDT) e cianotoxinas.
Os trabalhos se voltam agora para a exposição das células a mercúrio, cobre, chumbo e outros poluentes
A próxima etapa do projeto desenvolvido pela equipe brasileira, a partir de 2011, envolverá o uso de metais radioativos para facilitar a localização dos poluentes no organismo de peixes.
Isso será realizado em parceria com o Laboratório de Radioisótopos Eduardo Penna Franca, da Universidade Federal do Rio Janeiro, e com o Instituto Maurice Lamontagne, que irá analisar os animais após a intervenção dos pesquisadores brasileiros.
Enquanto os estudos continuam em andamento, resta apostar no bom senso dos empresários e na denúncia dos abusos.